segunda-feira, 7 de março de 2011

A Luta Continua

Artigo de João Lisboa
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Não é improvável que, empolgada pelo efeito-Deolinda, uma nova vaga de politólogos, sociólogos, hermeneutas, historiadores, exegetas, psicólogos e outros Professores Karamba, se lance, avidamente, sobre o crucial acontecimento político-cultural que foi a vitória dos Homens da Luta na relíquia televisiva anual conhecida como Festival RTP da Canção. Uma trupe revisteira de "clowns" mascarados de bonecos-do-PREC - o proleta, a ceifeira, o soldado, o pintas, a jovem-estudante-de-esquerda e o zecafonsodepunhoerguido - é uma caricatura que não só diz bem com o espírito do Carnaval como é pitéu demasiado tentador para se lhe conseguir resistir. Não esquecendo que o triunfo foi assegurado por esse feliz casamento entre democracia directa e negócio para as operadoras telefónicas que é o "voto popular" via-chamada para a RTP (factor decisivo responsável pela "viragem" do resultado final no sentido da "cause du peuple"), que os neo-Situacionistas de Parque Mayer anunciaram ir estar presentes na manifestação de dia 12, da "geração-Deolinda" ("tout comunique!", como diria a Mme Arpel), e que - detalhe nada menor - o Festival da Eurovisão onde "A Luta É Alegria" representará a lusa pátria terá lugar em Düsseldorf, a 5 de Maio, no quintal das traseiras da Angie Merkel.
Nada disso, porém, é mais importante do que um outro facto que era conveniente não passar despercebido: perante o desfile proverbialmente deprimente das doze canções a concurso, os dezoito júris - recheados até às guelras de "maestros", "professores de música", "músicos" e "directores de conservatório"... tão imensa (e democraticamente regionalizada) riqueza musical da pátria foi uma fulgurante revelação - manifestaram-se desmedidamente agradados face à magnífica exibição de talentos e derramaram elogios e piropos sobre os excelsos artistas. Que a ministra da Cultura e os seus colegas da Educação e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior prestem toda a atenção: por mais severa que seja a crise, cortar verbas e subsídios a estes sobreexcelentes músicos e pedagogos... NUNCA!

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