terça-feira, 23 de junho de 2009

São Quatro Biombos E Um Baú, S.F.F.

Um artigo de Ricardo Costa
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Carlos César descobriu uma nova forma de analisar a difícil situação do seu partido. De forma curiosa sugeriu que se deviam "colocar biombos à frente de alguns ministros" até às eleições. Confesso que a ideia me fascina. Imaginar alguém do PS a ir à Moviflor encomendar biombos faz-me esquecer a crise. Não ver alguns ministros faz-me encarar o Verão com outro entusiasmo. A frase de César revela três problemas graves: a falência de alguns ministros, a ineficácia do discurso 'Santos Silva' e a solidão do primeiro-ministro. As três coisas estão ligadas. Ao contrário do que muita gente pensa, o 'estilo Sócrates' mudou bastante ao longo da legislatura. No início, ele já era determinado, autónomo e arrogante, como agora se repete de manhã à noite. Isso é certo. Mas nessa altura estava rodeado de mais pessoas que pensavam pela própria cabeça e lhe diziam "não". Com excepção de Isabel Pires de Lima, todos os ministros que saíram do Governo tinham essa capacidade: Luís Campos e Cunha, Freitas do Amaral, António Costa e Correia de Campos. Não estão em causa as qualidades e defeitos desses ministros. Apenas a sua força política, superior à dos sucessores. Neste processo, José Sócrates foi ficando mais só e cada vez mais dependente de porta-vozes com um discurso errado no estilo, na forma e no raciocínio. Foi nos últimos dois anos que Vitalino Canas e Augusto Santos Silva emergiram. Tanto um como outro são pessoas inteligentes. Mas discursam como líderes de claque, capazes de animar fiéis embriagados e de espantar ou assustar os que insistem em se manterem sóbrios. Sem heterodoxos por perto e guardado por um discurso radical, José Sócrates isolou-se demasiado. Vive num núcleo duro fiel, que o expõe sem piedade e que depende dele para sobreviver. Na verdade, a estratégia de Sócrates não tem recuo possível. Pode ser vencedora, mas passa apenas por uma mudança de estilo, por muita explicação, alguma justificação e pela remoção de obstáculos incómodos. Dizer que Cavaco Silva fez o mesmo quando governou é um erro. Cavaco secou o PSD, mas mesmo no fim tinha ministros com enorme capacidade política (Nogueira, Durão, Loureiro, para não ir mais longe). Perto das eleições, Mário Lino, Manuel Pinho, Maria de Lurdes Rodrigues e Jaime Silva serão tapados por biombos. Duvido que um biombo chegue para Santos Silva. Talvez um baú? Pode ser o mesmo em que Carlos César se devia ter metido quando provocou a mais inútil guerra com o Presidente da República por causa do Estatuto dos Açores

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