sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Poema - Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
.
E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração
.

Bernardo Soares (1931)

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